Jornal "O
Atibaiense" - Renato Zanoni |
Ano de 1936
Major Juvenal Alvim -
Falecimento
"A Parca, ceifadora brutal, arrebatou ao nosso
convívio e a nossa estima, vibrando um golpe profundamente doloroso, aquela
figura inconfundível, que se chamou Juvenal Alvim.
O passamento do grande atibaiense, ocorrido na
madrugada de domingo passado (9 de fevereiro), abre uma lacuna que não se
preenche na terra que lhe deu berço e a que o pranteado morto, sem
esmorecimento, prestou inestimáveis serviços durante longos anos, quer como
homem público, quer como homem particular. Evidentemente, não existe na história
de Atibaia nenhuma iniciativa altruística que não encontrasse desde logo em
Major Juvenal Alvim, decidido apoio material e moral. A cidade deve ao seu
inesquecível filho, a sua operosidade sem par, todo o surto do seu progresso. O
seu amor a terra que o viu nascer chegava ao sacrifício: desejava-a cada vez
maior, não a abandonava nunca, até com prejuízo da saúde, na boa ou má fortuna.
Dali por certo o motivo da moléstia que nos roubou uma vida preciosa, padrão de
dignidade cívica e moral.
Descanse em paz grande Morto, na paz do céu!
Ass. Licínio Carpinelli "
O falecimento
"Na madrugada de domingo p.p., faleceu nesta
cidade, repentinamente, o grande chefe republicano e benemérito cidadão
atibaiense, Major Juvenal Alvim. Precisamente às 3 horas, expirava nos braços de
sua amantíssima esposa e filhos, vitimado por um colapso cardíaco.
Quis assim o destino inexorável, nos seus
misteriosos desígnios, ferir profundamente o coração da coletividade atibaiana,
privando-a abruptamente da presença e do convívio benfazejo do vulto que,
incansavelmente, sempre propugnou pelo progresso e felicidade desta terra.
A infausta nova, célere correu pela cidade,
chocando a população.
A residência da família Alvim, logo se encheu
de amigos e correligionários do extinto. O corpo, exposto em camara ardente, foi
ininterruptamente velado por avultado número de pessoas, calculado em mais de
1400, segundo as listas de presença. Era de ver-se o empenho com que os
pequeninos, humildes, guardavam o esquife do seu benfeitor. Porque o Major Alvim
foi acima de tudo, o amigo e protetor da classe pobre de Atibaia."
Dados Biográficos
"O extinto era filho do Cel. José Alvim de
Campos Bueno, também conhecido por Nho Bim e de d. Gertrudes Alvim. Nasceu nesta
cidade no ano de 1866, constando portanto 70 anos de idade.
Por morte de seu irmão, José Francisco de
Campos Bueno, que sucedeu ao pai na chefia do Partido Republicano local, instado
por amigos e correligionários o Major Juvenal Alvim assumiu este posto, em
agosto de 1913, o qual desempenhou nimbado pela auréola do prestígio, da
admiração e da estima pública.
Em três legislaturas sucessivas - de 1913 a
1922 - exerceu as funções de presidente da Câmara e, em ambos esses cargos,
prestou relevantes serviços ao município. Antes de ser chefe servia com vereador
e intendente municipal.
Deve-lhe Atibaia a construção do Grupo Escolar
José Alvim, cujas obras custeou para mais tarde ser reembolsado pelo governo do
Estado; a construção do Cemitério; da Caixa D'agua; o serviço de esgoto e água;
o ajardinamento das principais praças públicas e arborização das ruas, o
Mercado, a luz elétrica; a estrada de rodagem que liga esta cidade a São Paulo.
Não fora a revolução de 1930, com seu corolário
de confusões, estaria Atibaia com suas principais artérias pavimentadas, graças
a boa vontade do Major Alvim, que já tinha adquirido grande número de
paralelepipedos.
Foi de sua própria iniciativa a fundação da
fábrica de Tecidos São João, modelar estabelecimento fabril que muito tem
cooperado para o engrandecimento desta terra, e ainda a construção do Hotel
Municipal e do Cine Teatro República.
Todas as instituições de beneficiencias locais,
como a Santa Casa de Misericórdia, Vila de São Vicente, Sociedade de Assistencia
aos Mendigos, Caixa Escolar tiveram na pessoa do finado, um benemérito, pois que
ele, jamais recusou a prestar qualquer auxílio que redundasse em benefício da
pobreza, que hoje chora a irreparável perda de seu amparo. Também as sociedades
recreativas e esportivas, sempre tiveram a ajuda infalivel do Major Alvim.
Negociante e fazendeiro abastado, soube o Major
Alvim fazer bom uso da fortuna, pois a sua maior preocupação era ser útil e
distribuir beneficios e manacéias.
Quantos, pelos favores recebidos, pagaram-lhe
com a moeda vil da ingratidão! Mas a despeito de tudo, o velho chefe sabia
perdoar, porque possuia grande coração, afeito as vicissitudes da vida. Como
político influente foi sempre contrário a perseguições, pautando seus atos pelas
normas de tolerancia, da nobreza!
O finado deixa viúva a exma. sra. D. Gertrudes
Pires Alvim e os seguintes filhos : D. Ernestina Alvim Neto, casada com o sr.
Horácio Neto; pharm. Joviano Alvim, casado com d. Dinah Azevedo Alvim; D. Maria
Gertrudes Alvim Soares, consorte do sr. Clovis Soares; José Pires Alvim, casado
com d. Rita Lourdes Cardoso de Almeida Alvim; d. Anita Alvim Freitas, esposa do
dr Paulo Leite de Freitas; Lucila, Veridiana e Lazinha Alvim, solteiras. Deixa
inúmeros netos e bisnetos, entre os quais d. Nide Passos, d. Nícea Passos
Fonseca, esposa do sr. Mauro Fonseca, e Celeste, Maria Aparecida e José, filhos
do sr. Octávio Passos." |